Um dia de madrugada, Malu, minha melhor amiga, me envia uma mensagem: “Quero te produzir para um ensaio fotográfico. Você topa?” ela me disse. Apesar de ter estranhado a súbita proposta, aceitei e, de lá para cá, fomos acertando todos os detalhes.
Faríamos uma espécie de editorial de moda usando as roupas dela e tendo como tema personagens da literatura clássica, de maneira a modernizá-las. Chamamos nosso amigo fotógrafo, Felipe, para capturar os momentos e passamos boa parte do último feriado prolongado (12 e 14 de outubro) envolvidos na produção que vocês podem conferir abaixo.
No vídeo, mostrei o making off para que vocês pudessem ter mais noção dos bastidores, além de ter contado um pouco sobre cada personagem escolhida pela Malu. Coloquei aqui no post, também, algumas das fotos resultantes de mais essa experiência bancando a modelo. Espero que vocês gostem! Da minha parte, foi extremamente divertido, embora cansativo, e estou completamente apaixonada pelas fotos ♥
MAKING OFF
ENSAIO FOTOGRÁFICO
Gabriela (Gabriela, Cravo e Canela, Jorge Amado)
Quando os dois grupos se encontraram, no começo da viagem, a cor do rosto de Gabriela e de suas pernas era ainda visível e os cabelos rolavam sobre o cangote, espalhando perfume. Ainda agora, através da sujeira a envolvê-la, ele a enxergava como a vira no primeiro dia, encostada numa árvore, o corpo esguio, o rosto sorridente, mordendo uma goiaba.
Capitu (Dom Casmurro, Machado de Assis)
Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá idéia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros, mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me. Quantos minutos gastamos naquele jogo? Só os relógios do céu terão marcado esse tempo infinito e breve. A eternidade tem as suas pêndulas; nem por não acabar nunca deixa de querer saber a duração das felicidades e dos suplícios. Há de dobrar o gozo aos bem-aventurados do céu conhecer a soma dos tormentos que já terão padecido no inferno os seus inimigos; assim também a quantidade das delícias que terão gozado no céu os seus desafetos aumentará as dores aos condenados do inferno. Este outro suplício escapou ao divino Dane; mas eu não estou aqui para emendar poetas. Estou para contar que, ao cabo de um tempo não marcado, agarrei-me definitivamente aos cabelos de Capitu, mas então com as mãos, e disse-lhe, para dizer alguma cousa, que era capaz de os pentear, se quisesse.
Julieta (Romeu e Julieta, Shakespeare)
Oh!, fala uma outra vez, anjo brilhante,
Pois nesta noite tu és gloriosa
Como é no céu o alado mensageiro
P’ra os olhos revirados em espanto
Dos mortais que se inclinam para o ver
Quando ele monta nuvens indolentes,
E voga em pleno âmago do ar.
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Úrsula Iguarán (Cem Anos de Solidão, Gabriel Garcia Marquez)
A diligência de Úrsula andava de braços com a de seu marido. Ativa, miúda, severa, aquela mulher de nervos inquebrantáveis, a quem em nenhum momento da vida se ouviu cantar, parecia estar em todas as partes desde o amanhecer até a noite já bem avançada, sempre perseguida pelo suave sussurro das suas anáguas de cambraia. Graças a ela, o chão de terra batida, os muros de barro sem caiação, os rústicos móveis de madeira construídos por eles mesmos estavam sempre limpos, e as velhas arcas onde se guardava a roupa exalavam um cheiro tênue de manjericão.
Elizabeth Bennet (Orgulho e Preconceito, Jane Austen)
– Miss Bingley em descreveu melhor do que sou – respondeu Darcy. – O melhor e o mais sábio dos homens, e mesmo a mais sábia e a melhor das ações pode ser ridicularizada por quem faz da ironia o seu único fim na vida.
– Existem certamente pessoas assim – replicou Elizabeth. – Mas espero que eu não seja uma delas. Espero que nunca hei de ridicularizar o que é sábio e bom. Loucuras e absurdos, manias e inconsistências de fato me divertem. E eu rio delas quando posso. Mas isto, penso eu, são coisas de que o senhor carece precisamente.
Lolita (Lolita, Nabokov)
Lolita, luz de minha vida, labareda em minha carne. Minha alma, minha alma. Lo-li-ta: a ponta da língua descendo em três saltos o céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os dentes. Lo. Li. Ta.
Pela manhã era era Lô, não mais que Lô, com seu metro e quarenta e sete de altura e calçando uma única meia soquete. Era Lola ao vestir os jeans desbotados. Era Dolly na escola. Era Dolores sobre a linha pontilhada. Mas em meus braços sempre foi Lolita.
Daisy Buchanan (O Grande Gatsby, F. Scott Fitzgerald)
O único objeto completamente estático na sala era um enorme sofá em que duas jovens flutuavam como se num balão ancorado. Estavam ambas de branco, e seus vestidos encrespavam-se e adejavam como se tivessem acabado de ser sopradas de volta após um curto voo pela casa. Devo ter passado alguns momentos ouvindo o fustigar e o estalar das cortinas e o gemido de um quadro na parede. Depois houve um estrondo quando Tom Buchanan fechou as janelas dos fundos e o vento capturado extinguiu-se na sala, e as cortinas, os tapetes e as duas jovens pousaram lentamente no assoalho.
A mais moça era desconhecida para mim. (…) a outra jovem, Daisy, fez uma tentativa para se levantar – inclinou-se ligeiramente para frente com uma expressão cuidadosa – então riu um riso absurdo, charmoso, e me aproximei entrando na sala. (…)
Seu rosto triste e adorável estava brilhante, com olhos brilhantes e uma brilhante boca apaixonada, mas em sua voz havia uma excitação que os homens que a apreciavam achavam difícil de esquecer: uma compulsão cantante, um “Ouça”
sussurrado, um juramento de que ela fizera coisas alegres e excitantes há poucos instantes, e que havia coisas alegres e excitantes na sala ao lado.
Lily (Travessuras da Menina Má, Mario Vargas Llosa)
Então a reconheci. Tinha mudado muito, naturalmente, sobretudo na maneira de falar, mas continuava emanando toda aquela malícia que eu recordava muito bem, uma coisa atrevida, espontânea e provocadora que se manifestava na sua postura desafiante, o peitinho e o rosto adiantados, um pé um pouco atrás,
a bundinha empinada e um olhar zombeteiro que não deixava o interlocutor saber se estava falando sério ou brincando. Era miúda, tinha pés e mãos pequenos e uma cabeleira, agora negra em vez de clara, presa em uma fita que lhe chegava até os ombros. E aquele mel escuro em suas pupilas.
Marquesa de Merteuil (Ligações Perigosas, Choderlos de Laclos)
Tive uma excelente ideia cuja execução quero confiar-vos. Estas poucas palavras deveriam bastar e, muito honrado com minha escolha, deveríeis vir desde logo e com solicitude receber minhas ordens de joelhos. Mas vós abusais de meus favores, ainda que não mais os desfruteis; e, na alternativa de um ódio eterno e de uma excessiva indulgência, faz vossa sorte que vença a minha vontade. Consinto, pois, em instruir-vos acerca de meus projetos, mas jurai-me que, como perfeito cavalheiro, não vos lançarei em nenhuma aventura antes que tenhais acabado esta. É digna de um herói: servireis ao amor e à vingança; será enfim mais uma tratantice a pôr em vossas memórias, pois quero que se publiquem um dia, e encarrego-me de escrevê-las. Mas deixemos isso e voltemos ao que me interessa.
E aí, o que vocês acharam?
Para quem gostou quer conhecer mais do trabalho do Felipe como fotógrafo, é só acessar o Flickr dele e entrar em contato por lá! E se você está precisando de uma produção de look – seja roupas, cabelo ou maquiagem -, é só falar com a Malu pelo Facebook ou Instagram!
Ameeei, Aione! Ficaram tão lindas, você representou muito bem.
Minhas preferidas foram da Elizabeth , Lily e Julieta. Eles merecem os parabéns pela produção 🙂