Título: Só Garotos
Autor: Patti Smith
Editora: Companhia das Letras
Número de Páginas: 280
Ano de Publicação: 2010
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Crescida numa família modesta de Nova Jersey, Patti Smith trabalhou em uma fábrica e entregou seu primeiro filho para adoção, antes de se mandar para Nova York, com vinte anos, um livro de Rimbaud na mala e nada no bolso. Era o final dos anos 1960, e Patti teve de se virar como pôde – morou nas ruas de Manhattan, dividiu comida com um mendigo, trabalhou e dormiu em livrarias e até roubou os colegas de trabalho, enquanto conhecia boa parte dos aspirantes a artistas que partilhavam a atmosfera contestadora do ‘verão do amor’. Foi então que conheceu o rapaz de cachos bastos que seria sua primeira grande paixão – o futuro fotógrafo Robert Mapplethorpe, para quem Patti prometeu escrever este livro, antes que ele morresse de aids, em 1989. ‘Só Garotos’ é uma autobiografia nada convencional. Tendo como pano de fundo a história de amor entre Patti e Mapplethorpe, o livro é também um retrato confessional da contracultura americana dos anos 1970. Muitas vezes sem dinheiro e sem emprego, mas com disposição e talento, os dois viveram intensamente períodos de grandes transformações e revelações – até mesmo quando Robert assume ser gay ou quando suas imagens ousadas e polêmicas começam a ser reconhecidas e aclamadas pelo mundo da arte.
A sensibilidade, intensidade e afetividade despendidas na construção dessa obra fazem dela não só uma ótima biografia, mas um importante relato sobre a cultura de uma época, o poder e o valor da reciprocidade, da superação e da amizade. Escrito por Patti Smith, artista de múltiplas faces, que passeia pela arte da poesia, do desenho e da música, os relatos aqui descritos parecem dedicados aos amantes das artes e do rock e, para além, são dedicados ao seu grande amigo e amor.
O livro é dividido em cinco partes, quais sejam: “Filhos da segunda-feira”; “Só Garotos”; “Hotel Chelsea”; “Juntos em caminhos separados” e “De mãos dadas com Deus”. Acompanhamos, assim, numa narrativa por vezes melancólica e por vezes poética, a trajetória de vida de Patti Smith e de Robert Mapplethorpe, duas pessoas buscando viver da arte e pela arte, em meio a realidades nada fáceis, mas que encontraram um no outro o apoio, o amor e a amizade necessária para se manterem firmes em tal realidade.
Entre as autobiografias que já tive a oportunidade de ler, essa trouxe algo de especial, talvez por ter me parecido de uma sensibilidade extrema – e não me refiro só à forma como foi escrita, mas ao próprio modo de ser dos protagonistas, que viveram experiências muito ricas e intensas, nos conduzindo por entre suas aventuras e desventuras no decorrer delas. Certamente, até mesmo aquele leitor que não se interessa muito por biografias poderá se surpreender com essa, caso tenha curiosidade, sobretudo pelo contexto em que ela é narrada.
Por ter como pano de fundo o cenário dos anos 1960/1970, épocas de intensa produção artística. No decorrer da narrativa, há uma série de referências que enriquecem muito a leitura, de modo que recomendo que tomem nota dos diversos nomes de escritores, cantores e artistas em geral que aparecem vez por outra e pesquisem posteriormente sobre eles; assim, é possível expandir o campo de leitura e conhecer muitas outras coisas interessantes que vão além dela.
Essa edição está primorosa: a capa é linda, a diagramação está muito boa e o livro é repleto de fotografias em preto e branco. Sem falar dos itens mais importante, que são tanto o modo como foi escrito quanto sua razão de ter sido escrito. Sem dúvidas, essas características fazem dele um livro inesquecível e merecedor do destaque que tem.
