Título: Só por hoje e para sempre
Autor: Renato Russo
Editora: Companhia das Letras
Número de Páginas: 168
Ano de Publicação: 2015
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Entre abril e maio de 1993, Renato Russo passou vinte e nove dias internado numa clínica de reabilitação para dependentes químicos no Rio de Janeiro. Durante esse período, o músico seguiu com total dedicação os Doze Passos, programa criado pelos fundadores dos Alcoólicos Anônimos, que incluía um diário e outros exercícios de escrita. É este material inédito que vem à tona depois de mais de vinte anos em Só por hoje e para sempre, graças ao desejo de Renato de ter sua obra publicada postumamente. Entremeando as memórias do líder da Legião Urbana com passagens de autoanálise e um olhar esperançoso para o futuro, este relato oferece a seus fãs, além de valioso documento histórico, um contato íntimo com o artista e um exemplo decisivo de superação.
Sendo fã das músicas de Legião Urbana, fiquei extremamente interessada na leitura de Só por hoje e para sempre, o diário feito por Renato Russo em seu período de reabilitação entre abril e maio de 1993. Antes de falar sobre a leitura em si, acredito que seria interessante trazer algumas informações biográficas do cantor.
Renato Manfredini Júnior nasceu em 27 de março de 1960 no Rio de Janeiro. Morou nos EUA entre os seis e treze anos, e, após essa idade, retornou ao Brasil, morando então em Brasília. Trabalhou como professor de Inglês e Jornalista, e fundou a banda de rock Aborto Elétrico, em 1978, juntamente de Fê Lemos – bateirista – e André Pretorius – guitarrista. A banda se desfez em 1981, dando início a uma fase solo de produção musical de Renato, conhecido na época como O Trovador Solitário. Em 1982, surgiu a Legião Urbana, que passou por modificações em sua formação original até chegar aos integrantes finais – Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá. O primeiro disco da banda foi lançado no início de 1985 e, ao todo, 16 discos foram lançados (alguns após a morte de Renato), entre álbuns de estúdio e ao vivo. Renato Russo faleceu em 11 de outubro de 1996 com 36 anos, devido a complicações causadas pelo HIV.
“Talvez meu problema tenha sido justamente me achar especial demais e, para enfrentar o tédio e a estupidez do mundo, utilizar-me das drogas p/poder baixar o nível.”
página 31
Giuliano Manfredini, filho do cantor, escreveu o prefácio de Só por hoje e para sempre falando sobre a personalidade de Renato e seu constante hábito de escrita. Escrevia, em suas palavras, para deixar seus pensamentos e emoções registrados para o futuro. Durante seu período de reabilitação em Vila Serena, a escrita fez parte de seu tratamento. Através dela, contava seu dia na clínica e rememorava os motivos e os fatos para que ele tenha chegado até aquele ponto de sua vida.
A editora Companhia das Letras reuniu esses escritos, organizados de acordo com o plano de tratamento do cantor – documento esse presente logo nas primeiras páginas do livro. Muitas das perguntas as quais Renato responde não puderam ser localizadas, de forma que suas respostas nem sempre podem ser compreendidas com exatidão, uma vez que não estão contextualizadas. De qualquer forma, isso não é um empecilho à leitura ou à imersão no sincero relato do cantor. A diagramação da obra, também, contribuiu completamente para isso: a escrita de Renato foi preservada, com suas abreviações e estrangeirismos. Além disso, muitos dos seus escritos eram ilustrados por ele e, novamente, a editora procurou incluí-los nas páginas. Por fim, a própria cor das letras utilizada remete aos manuscritos originais: azul, como a tinta de uma caneta.
“Tenho problemas com figuras de autoridades, regras, fascismo (mesmo inexistente, mas não se pode ignorar o que se sente), e isso está bem enraizado em mim, principalmente porque é uma das razões para que meu trabalho fosse tão bem-aceito pelo público (a maioria dos jovens pensa o mesmo, até qdo. ñ consegue expressar esse sentimento) – é o que coloco nas letras e o que represento como figura pública (o rebelde).”
página 36
Só por hoje e para sempre, ainda que seja uma leitura rápida por não ser extensa, passa longe de ser uma leitura leve ou sem profundidade. Foi incrível poder conhecer bastidores da vida do cantor, por meio de relatos de episódios de sua vida, e enxergá-lo como um ser humano, com suas falhas e qualidades, não simplesmente um rock star. Renato é extremamente sincero e humilde em suas palavras por ser capaz de analisar seus erros e defeitos, por ser capaz de admitir seus piores sentimentos, da mesma forma em que fala de suas qualidades sem se vangloriar delas, sendo apenas alguém consciente de si mesmo. Acima de tudo, fiquei tocada por seu claro e profundo desejo de mudar sua vida e suas atitudes, de eliminar seus vícios, de recuperar não apenas sua saúde física, mental e emocional, mas, principalmente, sua própria identidade. Renato traz, sim, muito do que perdeu em sua vida até atingir o que ele chamou de “fundo do poço”, estopim para buscar ajuda através da reabilitação. Contudo, traz, principalmente, sua vontade de viver sem ter que vivenciar qualquer outra perda do tipo, aceitando a si mesmo e às situações que fugiam ao seu alcance, e aprendendo a lidar com os pontos altos e baixos de sua personalidade.
Só por hoje e para sempre não é apenas um relato auto-biográfico de um curto período da vida de um homem. Indo muito além disso, é a busca desse homem por si mesmo, por sua fé um dia perdida. Envolvente e interessante por seu conteúdo, a obra é, acima de tudo, inspiradora e capaz de ajudar qualquer um que também precise de ajuda. Afinal, ainda que de maneiras diferentes, é muito comum nos sentirmos perdidos em alguma fase de nossas vidas. O importante é nos lembrarmos de ser feliz, nem que seja só por hoje.
Assista ao Booktrailer
Informações complementares
- As informações biográficas de Renato Russo foram retiradas do site oficial sobre o cantor e do Wikipedia;
- O Descobrimento do Brasil foi o álbum publicado no final de 1993, após a reabilitação de Renato Russo. O impacto dessa fase da vida do cantor é nítido nas letras das músicas presentes no álbum. Vale a pena conferir ◄ Vagalume
Olá Mi, tudo bem?
Quando vi esse lançamento, soube que precisava ler.
Amo o Renato Russo, acho todas suas músicas perfeitas.
Esse livro parece ser bem interessante, gostaria de conhecer as memórias dele.
Adorei a sua resenha
Beijos