Título: Mal- entendido em Moscou
Autor: Simone de Beauvoir
Editora: Record
Número de Páginas: 144
Ano de Publicação: 2015
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Um livro inédito de Simone de Beauvoir, publicado pela primeira vez na França em 1992. André e Nicole, dois professores universitários aposentados que sentem o peso da idade, viajam para a União Soviética pela segunda vez na vida. Lá, encontram a filha do primeiro casamento de André, Macha, uma mulher decidida que vive na grande experiência do socialismo do século XX. Assim, inicia-se uma série de mal-entendidos relacionados a questões individuais e coletivas – a não comunicação, a ideia de envelhecer, o amor de longa data, o papel e a identidade da mulher, as expectativas políticas etc. Mal-entendido em Moscou, que se vale das experiências de Simone de Beauvoir e de seu marido, Jean-Paul Sartre, em viagem à União Soviética, é um tocante relato sobre decepções políticas e sentimentais que lançam uma luz sobre a singularidade de nossa existência.
“Neste texto inédito, Simone de Beauvoir narra a crise existencial suprema. ”
Le Figaro
Ler qualquer coisa que seja de Simone de Beauvoir é sempre um prazer. Isso porque, além da sua inteligência e habilidade com a escrita, a autora possui um acúmulo teórico incrível que, sem dúvidas, faz com que seus escritos sejam lidos e debatidos mundialmente. De origem francesa, além de escritora, foi filósofa existencialista, ativista política, feminista e teórica social. A autora possui uma significativa importância histórica e é um privilégio ter acesso a esse texto, até então inédito no Brasil. Publicado pela editora Record, Mal-entendido em Moscou chega às livrarias representando uma verdadeira preciosidade a respeito da singularidade da existência humana.
O livro narra a história do casal de professores aposentados Nicole e André. Um casal culto, harmonioso e muito carismático que rapidamente prende a atenção do leitor com suas histórias. Um dos principais focos da trama são os efeitos do envelhecimento, de como o casal lida com eles e as mudanças na vida dos dois em decorrência do avanço da idade. Com reflexões de diversas esferas da vida, a abordagem direta, clara e sensível da autora foi responsável pelo meu rápido envolvimento com a leitura.
“Ele beijou Nicole e foi para a cama. Os sonhos: pelo menos isso ainda tinha. Encostou a bochecha no travesseiro. Gostava de se sentir escorregando no sono. Seus sonhos o faziam viajar mais profundamente que qualquer livro, que qualquer filme. Ele ficava encantado com sua gratuidade”.
página 36
A narrativa em terceira pessoa me pareceu diferenciada das demais, pela intimidade que a narradora demonstrou possuir com os personagens, já que o livro carrega traços da vida da própria autora e do relacionamento com seu marido e também filósofo Jean-Paul Sartre. Desse modo, temos a oportunidade de adentrar no mundo do casal Nicole e André e também nos pensamentos e particularidades de cada um separadamente.
Como nos antecipa o título dessa obra, acontece um “Mal-entendido em Moscou”, que redireciona a vida dos personagens e os leva a uma crise que certamente deixará o leitor um pouco angustiado, porque, mesmo com a crise existencial inerente ao casal desde as primeiras páginas do livro, essa parece tocar num ponto imprescindível e que é colocado em questão: o amor que os une e a importância que ambos possuem na vida um do outro. A partir desse ponto, compreendemos a totalidade da beleza narrativa que a autora depositou a essa obra e o valor das reflexões que ela nos proporciona.
“Esta é a vantagem da literatura, pensou ela: nós guardamos as palavras conosco. As imagens murcham, deformam-se, apagam-se. Mas ela reencontrava as velhas palavras em suas cordas vocais, quase como foram escritas. As palavras os uniam aos séculos passados, quando os astros brilhavam exatamente como hoje. E esse renascimento e essa permanência lhe davam uma impressão de eternidade”.
página 42
Minha experiência de leitura foi extremamente bem sucedida e gratificante, desde a primeira página do livro eu tive certeza de que seria uma leitura incrível e de fato foi. Se para mim o livro funcionou perfeitamente bem, imagino que, para quem esteja no auge da vida sexagenária e vivenciando tais conflitos existenciais, funcione ainda mais, pois a autora construiu um retrato sincero e realista dessa fase de vida, o qual, passa longe de ser superficial. Ela trouxe pensamentos sobre o tempo, a vida, o amor e sobre o companheirismo, que me pareceu acompanhar os protagonistas dessa história por toda uma vida. Não poderia deixar de mencionar que o livro possui, assim como os personagens, direcionamentos políticos e sociais bem delineados e retratados muito naturalmente no decorrer dos capítulos.
“Diziam isto constantemente: a senhora tem um ar jovem, vocês são jovens. Elogios ambíguos que anunciam futuros penosos. Manter a vitalidade, a alegria e a presença de espírito é continuar jovem. Logo, são próprios da velhice a rotina, a melancolia, a caduquice. Dizem: a velhice não existe, não é nada; ou então: é muito bonita, muito tocante; mas, quando a encontram, fantasiam-na em palavras mentirosas. Macha dizia: a senhora é jovem, mas pegou Nicole pelo braço. No fundo, era por causa dela que, desde a chegada, Nicole sentia o peso da sua idade”.
página 58
Indico muito a leitura, principalmente para quem já tem vontade de conhecer a escrita da autora. O livro tem menos de 150 páginas, mas nos proporciona momentos tão bonitos e singulares de encontro com personagens tão verdadeiros e sensíveis que ficamos com saudade deles quando terminamos a leitura. Mais do que mostrar uma crise conjugal e de identidade, a leitura nos proporciona enxergar os efeitos do envelhecimento nos protagonistas e suas diferentes faces, nos conduzindo a questionamentos que incluem o próprio sentido da vida. É uma obra esplendida.
Não tinha conhecimento sobre este livro, mas apesar de você ter curtido a leitura e eu ter gostado da resenha, não sei se leria, o contexto da história não me chamou muito a atenção, talvez mais futuramente eu resolva ler.