Título: Dois Garotos Se Beijando
Autor: David Levithan
Editora: Galera Record
Número de Páginas: 224
Data de Publicação: 2015
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Baseado em fatos reais e em parte narrado por uma geração que morreu em decorrência da Aids, o livro segue os passos de Harry e Craig, dois jovens de 17 anos que estão prestes a participar de um desafio: 32 horas se beijando para figurar no Livro dos Recordes. Enquanto tentam cumprir sua meta — e quebrar alguns tabus —, os dois chamam a atenção de outros jovens que também precisam lidar com questões universais como amor, identidade e a sensação de pertencer.
A cada vez que finalizo um livro de David Levithan me pergunto se é possível que o autor seja menos do que incrível. Dois Garotos Se Beijando foi mais uma de suas obras capaz de me arrebatar devido à tanta sensibilidade presente em cada uma de suas linhas.
A estrutura de Dois Garotos Se Beijando chama a atenção por ser diferente em dois principais aspectos: capítulos e narrativa. Aqui, não temos a divisão em capítulos, mas sim agrupamentos de parágrafos. Sobre a narrativa, quem nos conta a história é um sujeito coletivo, na primeira pessoa do plural, formado por homens homossexuais de uma geração à frente da atual e que já faleceram em decorrência da Aids.
“Ele odiava se sentir assim. Odiava se sentir impotente. Refletiu sobre o que podia fazer. Como poderia se defender? Ele sabia que vingança não era uma opção. (…) Mas tinha que haver alguma forma de mostrar ao mundo que ele era um ser humano, um ser humano igual.”
página 69
Dessa maneira, o narrador faz inúmeras ponderações conforme a trama se desenvolve. Sendo onipresente e onisciente, é capaz de nos contar não apenas os fatos, descrevendo-os ao leitor, mas também as emoções e pensamentos de cada personagem, contrapostos a própria vivência dos narradores. Estes demonstram compreender não apenas como cada garoto se sente por já terem sentindo as mesmas emoções, mas também apontam como podem ser seus futuros e futuras visões, uma vez que apresentam a sabedoria dos que já viveram uma vida inteira e precisaram aprender e amadurecer com ela – algo ainda em desenvolvimento nos garotos.
É na voz desse narrador que se deposita toda a sensibilidade característica de Levithan. O autor fala das mais complexas e simples emoções, fala de como atitudes e pensamentos têm impactos diferentes na vida de cada pessoa, demonstra o quanto atitudes irracionais, baseadas na pura ignorância e no mais denso preconceito, afetam tão profundamente os que sofrem deles. Acima de tudo, o autor divaga sobre sentimentos e necessidades intrínsecas de todo e qualquer ser humano, independentemente de crenças, orientações sexuais ou etnias, o que faz com que suas temáticas sejam universais e extremamente verossímeis.
“Nós nos vemos como criaturas marcadas por uma inteligência particular. Mas uma de nossas características mais específicas é a incapacidade de nossa expectativa simular verdadeiramente a experiência que esperamos. Nossa expectativa de alegria nunca é o mesmo do que alegria. Nossa expectativa de dor nunca é o mesmo que dor. Nossa expectativa de desafio não é nem um pouco como a experiência do desafio em si. Se pudéssemos sentir as coisas que tememos antes da hora, ficaríamos traumatizados. Assim, nós nos arriscamos pensando que sabemos como as coisas serão, mas não sabemos nada sobre a verdadeira sensação de cada coisa.”
página 137
Dois Garotos Se Beijando não traz apenas, como premissa, dois garotos tentando quebrar um recorde mundial através de uma tentativa desesperado de serem reconhecidos como iguais e detentores dos mesmos direitos do restante da população, ao mesmo tempo em que apresenta, paralelamente, situações de mais cinco garotos homossexuais, cada um vivenciando uma diferente experiência. Dois Garotos Se Beijando traz também uma perspectiva histórica da luta dos homossexuais por sua sobrevivência e direitos, demonstrando os avanços já obtidos e o quanto ainda é necessário ser alcançando – e que pode ser conquistado.
Dois Garotos Se Beijando é um relato comovente e sincero, metamorfoeseado em uma obra Young Adult, público, talvez, mais receptivo a mudanças e engajado na obtenção de conquistas. Com mais essa obra, David Levithan me deu a certeza de que sempre conseguirá tocar minhas emoções e impressões dessa forma única e já característica como sua, repleta de intensidade e sensibilidade.
Visito o blog praticamente todos os dias, mas é a primeira vez que comento.
Suas resenhas são ótimas, Mi! Me fizeram comprar os últimos 5 livros que tenho.
Agora mais um vai pra lista de desejados.
Beijos