Deusa da Rosa é o terceiro volume publicado no Brasil da série Goddess, de P.C. Cast. Originalmente, é o quarto livro da série. De maneira independente, a autora reconta diversas mitologias a sua maneira, sempre com o intuito de ressaltar o poder feminino. Dessa forma, os livros podem ser lidos fora de ordem, já que não há entrelaçamento entre as histórias.
Um breve comentário: há uma pequena ligação entre Deusa da Rosa e Deusa da Primavera: como as duas histórias se passam em Tulsa, quando não nos reinos mágicos, há uma pequena conexão entre os livros. Em determinada cena, Mikki, protagonista de Deusa da Rosa, refere estar em uma famosa padaria da cidade que ela sempre frequenta, a Pane Del Dea, a padaria de Carolina, protagonista de Deusa da Primavera. De qualquer forma, apenas a padaria é citada e não sua dona ou qualquer outro personagem.
Aqui, P.C. Cast recontou seu conto – e o meu – favorito: A Bela e Fera. Desde que descobri a série, fiquei ansiosa especificamente por esse livro e não entendia o porquê de todos os outros recontarem mitologias de deuses gregos e esse não. Porém, eu estava enganada. A autora não apenas recriou a história de A Bela e a Fera, como também a misturou com as mitologias de Minotauro e da Deusa Hécate, criando um mundo completamente novo e original: o Reino das Rosas, o mundo onde os sonhos da humanidade são destinados para se tornarem realidade ou pesadelo, ou para simplesmente serem guardados. Adorei esse novo mundo, não apenas por toda sua mágica e bela descrição, mas pelo seu próprio significado literal e metafórico.
Não apenas com o benefício de um cenário original e encantador, P.C. Cast também conta com uma narrativa fluida e romântica em terceira pessoa, dando o tom exato de romance à história, mesmo nas cenas mais sensuais, possibilitando que ela seja vista por mais de um ponto de vista. Vale lembrar que as cenas de conteúdo mais erótico estão presentes desde o início do livro, portanto fica o lembrete de que essa é uma série adulta, ainda que tais cenas não cheguem a ser explicitamente eróticas.
De qualquer maneira, o que prevalece é o tom romântico da história, fazendo com que o livro seja destinado a um público que goste dessa abordagem e desse gênero. Por mais interessante que possa ser a mescla de mitologias, o livro pode desagradar aqueles que não gostam de histórias romantizadas.
“Com um suspiro, eles juntaram os fios em silêncio, porém suas mãos encontraram-se muitas vezes e seus olhos falaram de sonhos ainda não realizados.”
página 270
Um dos pontos que mais me agradou foi o fato de que a temática do “amar além das aparências” não se refere apenas ao amor entre Mikki e o Guardião, mas também à própria auto-estima de Mikki e da valorização das mulheres, de um modo geral, de forma a reforçar ainda mais a questão do poder feminino. Mikki é uma personagem que, embora bonita, deseja ser vista e valorizada por ser mais do que isso e ela própria repudia a maneira injusta com que muitas vezes as mulheres são tratadas em nossa sociedade como, por exemplo, pela maneira de se vestirem ou por suas preferências literárias.
“(…) – E aqui vai uma novidade: os romances que chama de ‘baratos’ e de ‘água com açúcar’ superam em vendas todos os outros gêneros do mercado literário. Muitas das autoras que criam essas tramas, em que figuram mulheres fortes e apaixonadas, assim como homens honrados e heroicos, são extremamente perspicazes e cultas. Deveria tentar ler algumas delas. Essas autoras de romances femininos, das quais desdenha, poderiam lhe ensinar algumas coisas sobre como se comportar como um verdadeiro cavalheiro (…). Não, por favor… Não se levante. Quero me lembrar de você assim mesmo: confuso e sem palavras. É uma boa perspectiva para a sua pessoa. Sem dúvida alguma é bem melhor do que a de machista e paternalista.”
página 54
P.C. Cast arriscou na hora de construir o romance da história, afinal, dessa vez não temos um Adônis de tirar o fôlego, mas sim uma fera, vista no Reino das Rosas como um animal. Contudo, a autora teve sucesso por conseguir tornar possível ao leitor enxergá-la pelos olhos de Mikki, possibilitando torná-lo atraente mesmo em sua forma animalesca e tendo seu lado humano ressaltado. Mais do que tudo, a mensagem ficou clara; afinal, a história de amor narrada supera qualquer tipo de aparência que possa existir nesse casal, e os mistérios que pairam sobre ela foram um adicional interessante para manter a curiosidade do leitor acesa até o final do livro.
A Deusa da Rosa foi, em minha opinião, o melhor dos livros da série até o momento, tanto pela originalidade da criação do cenário e da junção das mitologias quanto pela própria história de amor em si. Apesar de A Bela e a Fera sempre ter sido meu desenho favorito da Disney, foi fazendo essa leitura que me dei conta que seu significado vai além de se enxergar além das aparências. A história fala, também, de se amar independentemente de ser a Fera ou o Príncipe, independentemente da aparência ou das qualidades. Fala de se amar a essência, independentemente de como ela se apresente.
aa que bacana a resenha parece ser otimo o livro
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