Aos setenta anos de idade, uma mulher já cansada, volta à cidade que havia deixado dez anos atrás e em meio às ruínas de sua velha casa, relembra sua vida. Quando tinha onze anos seu coração foi partido de tal maneira que fez com que decidisse nunca mais se apaixonar. Porém vê seu mundo virar de cabeça pra baixo quando se muda para o Rio de Janeiro. Lá conforme os anos vão transcorrendo, em meio a uma adolescência um pouco conturbada, ela passa a viver relacionamentos vazios. No entanto, sem que tivesse percebido se envolvia cada vez mais com quem jamais pensou. Ela não sabia até quando resistiria a uma paixão que a arrastava cada vez mais fundo dentro de si. E quem era aquele homem que ela sonhava desde criança? Ele seria real ou apenas um sonho sem sentido?
Flor de Laranjeira conseguiu, finalmente, despertar em mim o que eu vinha procurando em uma leitura há tempos. Embora o livro não tenha entrado para a minha lista de favoritos, ainda assim me envolveu de maneira que não me fizesse querer parar de lê-lo um segundo sequer.
A obra de Gabriela Rodriguez me conquistou no primeiro parágrafo. Costumo dizer que, certos livros, eu sei que vou gostar apenas de ler as primeiras linhas, como foi nesse caso, por causa da narrativa. Nenhuma razão específica, apenas uma questão de feeling mesmo. Em primeira pessoa, acompanhamos por toda a história a vida de Ana Lúcia que, aos 70 anos, relembra os acontecimentos por ela vividos, quando retorna a sua cidade natal: Esperança.
Aliás, já gostaria de comentar sobre a simbologia da cidade no livro, para mim. Como o próprio nome diz, ela representa a esperança de Ana Lúcia, que sempre se sentiu parte do lugar. Quando criança e com uma vida inteira pela frente, Esperança é o melhor local do mundo para se viver, na visão da protagonista. Conforme ela cresce e sua vida vai sendo afetada pelos mais diversos acontecimentos, modificam-se, também, seus sentimentos sobre o lugar. Nos momentos mais difíceis, é doloroso para ela retornar à cidade, como se também fosse difícil sentir, novamente, a esperança e a felicidade em seu coração.
Por acompanharmos toda a vida de Ana, acompanhamos, também, todas as diferentes Anas existentes no enredo. Primeiramente, é a vez da garota cheia de vida, a menina-moleque, sempre rodeada pelos seus amigos homens e odiada pelas garotas. Espontânea, divertida, inteligente e um tanto quanto espevitada. Conhecemos a Ana rebelde, a Ana apaixonada, a Ana amargurada, a Ana madura. Independente de que fase de sua vida, a personagem foi incrivelmente real para mim e, por isso, fiquei tão fascinada a ponto de querer conhecer, avidamente, toda sua história. Apenas um momento de sua vida que antipatizei com ela, porém, nesse mesmo momento, nem ela gostava de si própria.
Como praticamente qualquer obra literária, esse também tem seus pontos negativos. O livro apresenta alguns problemas de revisão, o que é completamente compreensível considerando-se que essa é uma obra independente. Ressalto aqui que tais problemas estão muito mais ligados a usos repetidos de uma mesma palavra ou com a pontuação, do que com erros ortográficos ou de digitação. Também, em alguns momentos havia uma brusca mudança de cenas sem que essas fossem separadas por um maior espaçamento, o que me deixava um pouco confusa. Outro ponto que notei foi que os primeiros 30 anos de Ana foram extremamente bem detalhados e acompanhados, enquanto que a segunda metade de sua vida acabou ficando um pouco corrida. Em minha opinião, acho que eu preferiria o inverso ou, então, que pelo menos seguissem o mesmo ritmo, já que a parte mais esperada de toda a história acontece apenas em sua segunda metade. Dessa maneira, senti que ela recebeu um menor foco, embora não a ponto de se tornar inverossímil ao leitor.
Ainda, embora os cenários sejam bem descritos, não há sequer uma menção sobre o tempo em que a história acontece. Através da citação de aparelhos como o Ipod ou de programas como o MSN, é possível saber que a história se inicia em tempos atuais. Porém, mesmo com a passagem dos anos, esses elementos continuam presentes, o que me deixou com a sensação de que as personagens envelheciam, mas o tempo em si permanecia inalterado, congelado sempre em uma mesma época. Sei que, no caso de o enredo se iniciar no presente, é uma tarefa difícil falar sobre o futuro em um livro que retrata o quotidiano, uma vez que não sabemos como ele será. Entretanto, senti falta de observar essas modificações e evoluções do mundo ao redor, de um modo geral.
Nenhum desses pontos, contudo, diminuiu meu envolvimento com a história e minha velocidade de leitura. Li as 415 páginas, com letras miúdas e margens estreitas, em dois dias, o que é um recorde pra mim nesses últimos tempos em que o sono me impede de conseguir ler muito sem antes dormir. Flor de Laranjeira retrata toda a vida de Ana e me conquistou por completo, mesmo que em certo momento eu tenha ficado estupefata com os acontecimentos e chegado a acreditar que não gostaria do desfecho, o que não aconteceu. Só tenho a agradecer a autora por ter me possibilitado a leitura e parabenizá-la por criar uma história tão envolvente. Recomendo a todos os que gostam de um bom YA romântico!
Ótima resenha!
O livro teve o meu interesse fisgado 😀
Interessante o assunto retratado no livro!
Beijos :*
Natalia. http://musicaselivros.blogspot.com.br/