Em seus primeiros rascunhos, “Insaciável” foi narrado na primeira pessoa, segundo a visão de Meena. E era um flashback gigante começando com a cena em que Alaric aparece pela primeira vez diante da porta de Meena. Esse flashback, sobre a noite de formatura cheia de terror de Meena com um futuro ex, chamado Peter Delmonico, tinha mais de 100 páginas de extrensão. Percebi que a primeira pessoa não estava funcionando nem o flashback, de modo que eu o destruí. Peter agora está relegado a uma simples menção no final do livro quando Lucien descobre a habilidade de Meena. Talvez algum dia eu publique a noite do baile de formatura de Meena com Peter, mas, por ora, temos isto:

Eu não posso te dizer como as sei.
Eu simplesmente sei.
Do mesmo modo que eu sabia que o homem alto, incrivelmente lindo, parado em minha sala de estar estava ali para me matar.
Que sorte a minha, certo? Eu finalmente tinha um cara atraente no meu apartamento, e o que ele faria ali?
Iria me matar, não me satisfazer.
Você não pensaria que fosse um assassino ao olhar para ele. Ele estava bem-vestido o bastante, de preto, de calça jeans justa, com um suéter de cashmere, e um casaco longo, negro… Hugo Boss, eu tinha certeza. O cachecol em torno de seu pescoço parecia feito de cashmere também – pelo menos olhando de onde eu estava – e realçava o azul de seus olhos….
…O tipo de olhos azuis brilhantes que não teria ficado nada mal em algum galã bonitão em sua caminhada por um tapete vermelho, ou remando uma prancha de surf numa praia de areia branca da Austrália.
Eles mal pareciam os olhos de um assassino.
Entretanto eu soube o que ele era a partir do momento em que abri a
porta e ele baixou o grande buquê de rosas vermelhas que estava diante de seu rosto (Por que eu tinha caído nesse velho truque? Esse do bouquê colocado diante do olho mágico? Eu merecia estar morta, apenas por ser estúpida o suficiente para me apaixonar por esse truque).
Eu não tinha pensado: “Oh, olhe para o cara de boa aparência, que parou diante de meu apartamento para me trazer flores.”
Não. Eu havia sabido no segundo em que o tinha visto: Ele era um assassino.
E tinha vindo me matar.Infelizmente, isso havia sido só depois que ele tinha deixado cair o buquê.
E em seguida entrou no meu apartamento, onde ele havia aberto o casaco, revelando o cabo da espada junto à sua cintura.
Eu gosto de pensar em mim como uma espécie de garota do século XXI. Eu tenho um Blackberry (que eu mal sei como funciona) e um MacAir além do desktop do computador de meu escritório. Tenho iPods em dois tamanhos – um para raras ocasiões em que faço exercícios (que juro que vou começar a fazer mais agora. Obviamente agora, que estou prestes a morrer), e um para uso doméstico. Eu fico em contato pelo facebook com amigos do colégio e da faculdade com os quais não me importo o suficiente para telefonar porque, vamos admitir, eles são uma chatice. Sei como gravar os reality shows de que eu gosto usando meu DVR(1), e posso enviar mensagens de texto como um campeão… mesmo enquanto dirijo, mas, como não possuo um carro e vivo na cidade de Nova York, esta última situação acontece raramente.
Mas eu poderia fazê-lo se precisasse!
E ainda, de algum modo, perdi toda a mania de espadas.
E agora eu estava prestes a ser atravessada por uma.
É engraçado como essas coisas acontecem, não é?
E eu não tinha nada com o que me defender. Eu não estava usando nada senão o meu sutiã e a calcinha de seda preta que mantive no corpo alguns minutos mais cedo, após minha ânsia de despir minhas roupas do trabalho. Talvez você tenha pensado que, ao perceber que estava prestes a encontrar meu criador, eu devesse ter apanhado um robe por amor à decência (nenhuma garota quer ser encontrada por Deus em suas roupas de baixo), ou pelo menos algo que pudesse usar como uma arma… uma lata de spray e um isqueiro, para usar como um lança-chamas improvisado, ou mesmo um sapato, para jogar na cara.
Como de costume, no entanto, eu instintivamente agarrei meu Blackberry, que em qualquer cenário seria praticamente inútil em minhas mãos.(2) Mas nesse seria ainda ridículo, a menos que eu quisesse convidar alguns policiais para virem ser mortos junto comigo.
Mas o que mais eu poderia fazer? Bastava ficar ali e ser decapitada? No meu apartamento em pleno Upper East Side, para que eu acabasse sendo a vítima “tirada-das-manchetes-dos-jornais”(3) do próximo mês do seriado Lei e Ordem?
Hum, não, obrigada.
Ele estava olhando em volta, com uma leve curiosidade, para meus móveis da Ikea(4). Hei, eu trabalho para a televisão. Você acha que eu compro coisas caras? Pense duas vezes, amiga.
Enquanto isso, os dedos de sua mão direita repousaram sobre você-sabe-o-quê. Sim. Parecia inacreditável, mas, dado tudo o que tinha acontecido na semana passada, eu não deveria ter ficado surpresa. Era um senhor cabo de espada. Um cabo monstro de espada.
Prendi a respiração quando aqueles olhos azuis me encararam.
“Eu não estou aqui por sua causa, Meena”, ele me surpreendeu dizendo isso com uma voz tão profunda, que parecia reverberar através do meu peito. “Apenas diga-me onde ele está, que vou te deixar viver.”
Eu pulei.
OK. Então ele sabia meu nome. É claro. Tinha sido por causa das flores, que é o motivo por que Kevin, meu porteiro, o tinha deixo subir.
Um cara com uma espada escondida nas dobras de seu casaco. E Kevin o deixou subir. Muito obrigada, Kevin. Sem caixinha de Natal para você.
Ele tinha algum tipo de sotaque. Europeu, embora eu não pudesse reconhecer de que país exatamente.
Mas como ele poderia saber meu nome? Eu não tinha ideia de quem ele fosse. Eu nunca o tinha visto antes em minha vida. Eu acho que identificaria um assassino se o tivesse visto.
E ainda … Era como se de algum modo eu o conhecesse desde sempre.
Talvez essa seja a maneira como todo o mundo se sente quando encontra seu assassino.
Ou talvez seja assim só comigo. Eu sempre fui… bem, eu sempre fui diferente.
Ele foi de modo bastante natural abrindo o casaco. Agora, ele desembainhava a espada. A lâmina fez um som vibrante no silêncio do apartamento, som notavel como um sino, quando foi notavelmente sacada de sua bainha.
Bainha. Eu estava realmente prestes a ser morta por alguém que possuía uma bainha.
É incrível o que se pensa pouco antes de morrer. Tudo o que pude pensar, por exemplo, foi Uau. Sem preliminares para esse cara.
E, Isto é tão injusto.
Porque foi injusto: eu nunca tinha feito nada para merecer esse fim. Eu tinha levado uma vida decente. Eu nunca tinha sonegado os impostos que devia. Eu tinha doado toneladas de dinheiro que realmente poderia ter gastado em roupas – e num mobiliário melhor(4) – para a caridade. Eu nunca tinha roubado o namorado de ninguém. Nesse preciso momento, eu nem sequer tinha um namorado! Bem, a menos que Lucien tenha contado. E eu realmente não tinha certeza, nesse preciso momento, se ele havia ou não contado.
Não era justo que eu tivesse de bater as botas assim. Realmente não era.
E eu sabia, só de olhar esse rosto esculpido a cinzel, que não havia o menor lampejo de esperança.
Mas é incrível o que não se faz para tentar sobreviver.
Eu afastei meus lábios. Forcei minha língua para umedecê-los.
“Eu sei que você está mentindo”, disse. “Você está aqui para me matar.”
Minha voz estava vacilante. Ela soava fraca até mesmo para meus próprios ouvidos, como quando tentei convencer o cara que entrega comida indiana de que ele não tinha botado molho extra de tamarindo na minha encomenda (mesmo quando não tinha botado).
Eu poderia dizer pela sua expressão que foi assim que soou para ele também.
Mas logo vi que eu estava enganada. Ele não ficou aborrecido com a minha fraqueza, mas simplesmente ofendido com a acusação.
“Eu nunca minto”, disse ele. “Apenas diga-me onde ele está, que você não será prejudicada.”
Tão perto quanto estava da morte, eu não poderia deixar de rir dessa. Talvez saber que você está prestes a morrer te deixe imprudente ou algo assim.
“Oh, certo,” eu disse. “Sendo assim, você pode matar a nós dois? Eu discordo.”
Ele parecia irritado. É por aí, Meena. Contrariar o seu assassino. Isso é inteligente.
Ele suspendeu o olhar por um momento de sua lâmina brilhante e disse, enquanto suas sobrancelhas escuras se levantavam um pouco sarcasticamente: “Eu já te disse, Meena. Eu não tenho interesse em te matar. Mas se você quer bancar a difícil…”
Difícil. Ele não tinha ideia de como eu poderia bancar a difícil. Especialmente agora que eu sabia que era tão boazinha quanto morta. Eu não tinha nada a perder.
Razão pela qual escolhi esse momento para atirar o meu Blackberry contra ele com todas as minhas forças.
Hei. Era tudo o que eu tinha. Isso e minha vida.
Então virei-me, e corri para viver.
AAAAAAAAAAAAAAH, AMEI!
Sou paga pau da Meg! Curti muito esse especial com uma cena deletada!