Título: Cada homem é uma raça
Autor: Mia Couto
Editora: Companhia das Letras
Número de Páginas: 200
Ano de Publicação: 2013
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Mia Couto é um escritor sobretudo generoso. Neste livro que reúne onze contos, publicado originalmente em 1990, ele prova isso mais uma vez. Os indivíduos são sempre objeto de fascínio e a descrição de suas vidas jamais traz qualquer julgamento. Com sua escrita poética inconfundível, que resulta num português com a melodia das línguas africanas, ele apresenta um rico universo de vivências de figuras moçambicanas. Se no conto “A Rosa Caramela” acompanhamos os dissabores de uma mulher corcunda que enlouqueceu depois de ter sido abandonada ao pé do altar, em “A princesa russa” a situação é de uma estrangeira que se vê num país desconhecido e com um marido hostil, e se alia a um de seus empregados nativos para sobreviver. “A lenda da noiva e do forasteiro” e “O embondeiro que sonhava pássaros” são exemplos dos contos mágicos e exuberantes de Mia, ao passo que “O apocalipse privado do tio Geguê” e “Os mastros de Paralém” têm um cunho político mais claro.
Mia Couto é, sem dúvidas, um dos grandes nomes da literatura do século XXI, sobretudo da de Língua Portuguesa. Por saber do renome do moçambicano, optei pela leitura de Cada homem é uma raça, antologia de contos publicada originalmente em 1990, para ter meu primeiro contato com sua escrita.
A obra é composta por 11 contos de temáticas diversas, além de um glossário, ao final, o qual reúne expressões e palavras africanas que aparecem ao longo dos textos. Ainda, a escrita do autor traz consigo as marcas do português de moçambique não apenas por tais palavras e expressões, mas também pelas construções utilizadas.
“História de um homem é sempre mal contada. Porque a pessoa é, em todo o tempo, ainda nascente. Ninguém segue uma única vida, todos se multiplicam em diversos e transmutáveis homens.
Agora, quando desembrulho minhas lembranças eu aprendo meus muitos idiomas. Nem assim me entendo. Porque enquanto me descubro, eu mesmo me anoiteço, fosse haver coisas só visíveis em plena cegueira.“
O apocalipse privado do tio Geguê, página 29
A narrativa não demora a envolver. Através de histórias variadas, Mia Couto revela toda a sensibilidade de sua escrita, criando um universo mágico, cativante e repleto de perceptibilidade. Além disso, é inegável o aspecto poético que a narrativa do autor assume.
Há contos nos quais predomina uma temática mais politizada, demonstrando diversos problemas locais, embora não exclusivos da região. Neles, aparecem tanto as desigualdades sociais e econômicas quanto políticas, expondo, assim, parte dos problemas lá enfrentados. Em outros, se faz presente, até mesmo, certo ar de humor e leveza, existindo, também, aqueles mais místicos. Independentemente da temática prevalente, o homem, desprovido de julgamentos, e suas facetas são as características comuns aos contos, bem como a sensibilidade de Mia Couto.
“Admirei: se não havia pretos quem fazia os trabalhos pesados lá na terra dela? São brancos, respondeu. Brancos? Mentira dela, pensei. Afinal, quantas leis existem nesse mundo? Ou será que a desgraça não foi distribuída conforme as raças?”
página 81
Por ser uma obra curta e fluida, a leitura de Cada homem é uma raça não é demorada. Contudo, lê-la degustando cada parte, buscando apreciar seus detalhes, é a melhor maneira de aproveitá-la e de compreendê-la. Acredito que fiz uma ótima escolha para ser apresentada ao trabalho de Mia Couto e, agora, sem dúvidas pretendo fazer também a leitura de algum de seus romances.
Admito que ainda não conhecia o autor, mas essa coletânea de contos despertaram minha curiosidade. Talvez esse não seja o melhor momento para que eu leia um clássico (ou qualquer outro livro) porque minha TBR tá enorme e já vi que não vou dar conta de todos os sete livros que tinha reservado.
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