Sobre o Livro
Título: Não Me Abandone Jamais
Autor: Kazuo Ishiguro
Editora: Companhia das Letras
Número de Páginas: 344
Ano de Publicação: 2016
Skoob: Adicione
Compare e Compre: Amazon ♥ Americanas ♥ Saraiva ♥ Submarino
O que nos faz humanos? É ao redor desse questionamento que a trama do distópico Não Me Abandone Jamais, de Kazuo Ishiguro, pouco a pouco se desenvolve. O livro foi finalista do Man Booker Prize em 2005 e adaptado para os cinemas em 2010.
No final da década de 1990, Kath é “cuidadora” há 12 anos e, prestes a encerrar sua função, ela passa a rememorar sua infância e adolescência em Hailsham, internato inglês. Pouco a pouco ela relembra seu crescimento e a forte amizade desenvolvida com Ruth e Tommy, bem como traceja o caminho que levou ao afastamento dos três.
A narrativa se dá em primeira pessoa e, desde as primeiras páginas, somos tomados pelo tom de relato que a história de Kath assume. Ao mesmo tempo em que ela faz uso de termos como “doadores” e “guardiões” sem explicá-los, o que cria certo mistério no enredo e demonstra que, para ela, esses são fatos conhecidos de quem acompanha seu depoimento, ela detalha fatos e cenários de Hailsham, indicando o quanto esses são pessoais e particulares. Assim, a trama pouco a pouco é criada, permitindo ao leitor não apenas buscar pistas para entender, de fato, o contexto de vida ao redor de Kath como também desvendar os fatos de sua fala, já que eles sofrem a ação do tempo e memória da protagonista. Kath, por sua vez, admite muito provavelmente não narrar tudo com exatidão, justamente por inferir muitas conclusões (resultantes das reflexões que os acontecimentos geraram) e/ou não se lembrar com clareza dos detalhes de muitos dos eventos mencionados.
Há certa objetividade e racionalidade na maneira de como Não Me Abandone Jamais é narrado, consequências do próprio tipo de educação recebida por Kath em Hailsham. Dessa maneira, foram muitos os momentos em que me vi praticamente recebendo um golpe emocional, pela maneira direta e natural com que a personagem relata pontos um tanto quanto chocantes. Dessa forma, o livro adquire esse impacto não por sua narrativa recorrer a paixões e dramas, mas justamente por tratar das emoções de maneira tão racional. O livro é sensível por trazer as lembranças de Kath e demonstrar as intrincadas relações entre ela, Ruth e Tommy, mas não o faz, de forma alguma, romanticamente.
Um dos pontos que mais gostei na leitura de Não Me Abandone Jamais foi o questionamento indireto levantado acerca da humanidade. Há uma clara inversão de papéis entre o que é considerado humano ou não, o que aumenta ainda mais o impacto causado pelo livro. Terminei a obra de Kazuo Ishiguro com o coração apertado, tentando absorver tudo o que li. Em muitos aspectos, esse é um daqueles livros que, quando terminam, deixam perguntas em aberto, não por sua história deixar pontas soltas, mas por ser possível adentrar em suas camadas em busca de seus significados.
Não Me Abandone Jamais foi um livro cuja leitura fluiu do começo ao fim, me causando reflexões e angústias enquanto me surpreendia com seus desdobramentos. Certamente, um livro para se levar na memória.
Sobre o Filme
Não Me Abandone Jamais foi adaptado para os cinemas em 2010 trazendo Carey Mulligan, Andrew Garfield e Keira Knightley nos papéis de Kath, Tommy e Ruth, respectivamente.
As diferenças entre a obra de Kazuo Ishiguro e o filme dela adaptado já se iniciam nas primeiras cenas, com explicações textuais que, no livro, são fornecidas apenas na finalização da trama. Ainda, as próprias primeiras cenas, aliadas às terminologias empregadas na história já permitem uma compreensão sobre o contexto de Não Me Abandone Jamais que não é tão facilmente notado no livro. Assim, se essa descoberta, durante a leitura, foi um dos grandes impactos que tive, no filme isso foi bastante minimizado.
No decorrer do longa, as diferenças entre os acontecimentos são mínimas, sendo mais ocultados do que verdadeiramente modificados. Entretanto, as diferenças realizadas, a meu ver, foram suficientes para modificar o tom de cada uma das obras, bem como seus significados.
Em primeiro lugar, a adaptação perde o efeito narrativo da rememoração, algo que seria difícil de ser transposto para as telas. Os acontecimentos, inclusive, aparecem em ordem cronológica, enquanto, no livro, não necessariamente respeitam uma linearidade. Contudo, as principais alterações, para mim, foram outras. O filme é, de longe, muito mais romantizado do que o livro. Aliás, é praticamente possível dizer que a adaptação é quase uma história de amor, o que não se aplica à leitura.
Não bastasse essa importante alteração, o próprio papel de Hailsham foi alterado. Enquanto no livro a escola existe por certo motivo, no filme seu propósito é praticamente o oposto, dando outra significação para os acontecimentos.
De modo geral, o filme Não Me Abandone Jamais causa tanta revolta quanto o livro homônimo, sendo, talvez, até mais possível de emocionar, principalmente por recorrer ao recurso romântico. Contudo, o livro permite reflexões e compreensões muito mais profundas do que o filme, já que esse acaba, por seu próprio formato, sendo limitado ao exposto. Não foi das melhores adaptações a que já assisti, sobretudo pelas alterações – significativas – terem me incomodado. Foi um bom filme, mas que ficou, em muito, aquém da obra original.
Assista ao Trailer!
Já da pra perceber que o filme é mais romântico que o livro, pela capa do filme e assim quando eu tava lendo a resenha do livro inicialmente e te vi dizendo que o romance não era o foco, não existia, tava achando estranho e como eu gosto de um romance talvez aproveitasse mais o filme. Contudo a história parece super interessante de se acompanhar e é bem legal fazer leituras que nos levem a reflexões, que sejam emocionantes e sensíveis.
Não conhecia essa obra e curti muito a dica 😉