Título: Do que é Feita uma Garota
Autor: Caitlin Moran
Editora: Companhia das Letras
Número de Páginas: 392
Ano de Publicação: 2015
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Do Que É Feita Uma Garota – Imagine a voz de Sylvia Plath em Grease, com trilha de My Bloody Valentine e Velvet Underground. Um romance de formação hilário, sobre como é difícil se tornar alguém “Wolverhampton, em 1990, parece uma cidade a que algo terrível aconteceu.” Talvez tenha acontecido de fato. Talvez seja Margaret Thatcher, talvez seja a vergonha que Johanna Morrigan passou num programa da TV local aos catorze anos. Nossa protagonista decide então se reinventar como Dolly Wilde — heroína gótica, loquaz e Aventureira do Sexo, que salvará a família da pobreza com sua literatura. Aos 16 anos, ela está fumando, bebendo, trabalhando para um fanzine de música, escrevendo cartas pornográficas para rock stars, transando com todo tipo de homem e ganhando por cada palavra que escreve para destruir uma banda. Mas e se Johanna tiver feito Dolly com as peças erradas? Será que uma caixa de discos e uma parede de pôsteres bastam para se fazer uma garota?
Do que é Feita uma Garota é um livro pouco convencional, diferente de qualquer livro que eu tenha lido nos últimos tempos e que tenha como protagonista uma garota de 14 anos. Com isso quero dizer que talvez seja o típico livro que não agrade a todos, mas àqueles que se agradarem certamente terão um carinho imenso por essa história e por sua personagem central.
Johanna Morrigan é uma garota de 14 anos que anseia por experimentar tudo o que a vida tem para oferecer. A história se passa nos anos 1990 na cidade de Wolverhampton que sofre de uma atual decadência. A garota tem um pai que sonha em ser astro do rock e uma mãe que sofre de depressão pós-parto depois de ter dado a luz a gêmeos, além deles, Johanna tem outros dois irmãos. A vida da família não é nada fácil, principalmente em se tratando de questões financeiras. Johanna se desdobra para ajudar a mãe com os irmãos e com alguns afazeres domésticos.
“Isso tudo porque sou gorda. Se você é uma adolescente gorda, fica difícil para as pessoas adivinharem que idade você tem. Quando você está usando um sutiã 48, as pessoas só vão presumir que você tem uma vida sexual ativa, e andou fazendo sexo selvagem e procriativo com machos alfa em algum lugar desértico. Não seria tão mal assim. E eu ainda nem fui beijada. Quero muito ser beijada. Estou furiosa por ainda não ter sido beijada. Acho que eu seria muito boa nisso. Quando eu começar a beijar, o mundo todo vai ficar sabendo. Meus beijos vão mudar tudo. Vou ser os Beatles do beijo.”
página 31
Um aspecto central da narrativa é a descoberta da sexualidade de Johanna, que é descrita a cada página e a cada nova descoberta de modo direto e sem floreios. Um dos grandes objetivos da garota na primeira parte do livro é perder a virgindade e até lá ela usa a imaginação para planejar suas ações e imaginar com quem iria ser sua primeira vez.
A personalidade de Johanna é muito marcante, além de inteligente ela é bem humorada e ao longo da trama essa característica nos rende boas risadas.
A narrativa em primeira pessoa nos leva pelos caminhos confusos, atrapalhados e de autoconhecimento de Johanna. A linguagem é muito direta, crua e certeira sendo fácil se envolver com a história. No entanto, há uma carga emocional muito forte que ronda toda a história a qual a autora não nos poupa detalhes.
Com o passar do tempo Johanna se reinventa e passa a se chamar Dolly, agora com 16 anos, ela trabalha como crítica para uma revista de música e adentra em um mundo repleto de atrativos. Sem nenhuma experiência com o mundo lá fora, apenas com o que sua imaginação a fazia desejar, ela encara uma fase de descobertas em diversos sentidos e passa por altos e baixos para conquistar o espaço que tanto deseja.
” Estamos todos fazendo a mesma coisa. Estamos todos apenas tentando atravessar esses anos rumo a um lugar melhor, que nós mesmos teremos de fazer.”
página 127
O livro é repleto de referências musicais e também literárias o que enriquece muito a narrativa e nos faz ver o quanto Johanna é uma personagem interessante e diferenciada, principalmente depois que ela começa a trabalhar para a revista sobre música, são tantas histórias hilárias e situações desconcertantes que é até difícil resumir. Sem falar que, mesmo com todas as coisas que ocorrem com ela, há uma particularidade presente em sua figura desde as primeiras páginas que é o empoderamento, então, mesmo sendo tão jovem entre seus erros e acertos algo que não mudou nessa garota foi sua determinação em controlar seu próprio destino e tomar suas decisões em relação ao controle da sua vida e sexualidade mesmo tendo ocorrido tantas outras mudanças.
” Ouvir mulheres cantando sobre si mesmas- em vez de homens cantando sobre mulheres- faz tudo parecer repentinamente claro, e possível.”
página 126
Por fim, considerei a experiência de leitura com esse livro muito positiva, de certo modo, ele desconstrói muitos mitos em relação à mulher, sobretudo, a partir do momento em que ele dá voz a uma mulher em plena descoberta da vida, da sexualidade, da liberdade. A autora fala abertamente de assuntos que não são comumente falados, principalmente quando se trata da figura feminina, pois, como sabemos ainda existem muitos tabus que precisam ser quebrados e a literatura é uma oportunidade de mostrar a importância que essa temática tem para o nosso cotidiano. Sem esquecer, no entanto, que estamos falando de uma menina se descobrindo, assim, recomendo que quem se proponha a fazer a leitura a faça despido de preconceitos ou julgamentos antecipados, pois, no fundo a busca de Johanna é por autoconhecimento, ela busca como todos nós, aprimorar o ser humano que é a cada dia.
Oi Clivia..
Gostei dessa personagem e acho que gostaria do livro. Gosto quando tem essa carga emocional e uma personagem forte com características próprias, pelo menos foi o que pareceu.
Sem dúvida esse livro deve quebrar um tabu, e vale a pena ser lido não só pelo público feminino.
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