Resisti bravamente à leitura de Cheio de Charme. Confesso, as quase 800 páginas me assustaram em meio a uma estante que, cada vez mais, crescia. Porém, decidida a cumprir a última das minhas metas de leitura de 2012 – ler todos os livros da minha estante adquiridos em 2011 -, enchi-me de coragem e li, ainda que eu só esteja postando a resenha agora.
Admito: inicialmente, não foi uma leitura fácil. Nada a ver com fluidez ou narrativa cansativa. Marian, com seu humor, consegue proporcionar uma leitura leve e fluida, afinal, li em uma tacada as 100 primeiras páginas. O que me incomodou foi a primeira personagem em destaque – Lola.
Apenas para explicar, o livro é contado sob o ponto de vista de quatro mulheres: Lola, Grace, Marnie e Alicia. Na verdade, apenas em alguns momentos temos capítulos destinados à Alicia. Em primeira pessoa, em uma narrativa estruturada como se fosse um diário ou agenda, acompanhamos Lola. Depois, em uma narrativa comum, em primeira pessoa, conhecemos Grace. Por fim, em terceira pessoa, temos Marnie. De alguma forma, todas estão conectadas, mas tal conexão só fica realmente clara conforme avançamos na narrativa.
Como havia dito, Lola, em sua primeira aparição, me incomodou demais. Em um primeiro momento, a história trata de Paddy, o charmoso e mulherengo político e eu acreditei, profundamente, que seria apenas isso: mulheres que se decepcionaram com ele e que agora tentariam a volta por cima. Afinal, de um modo ou de outro, a fórmula dos livros de Marian Keyes é a superação. Assim, toda a melancolia e auto-piedade de Lola me incomodou, porque achei que tudo aquilo estava tornando a história tediosa.
Porém, o que eu havia me esquecido, é que os livros de Marian Keyes são, ao mesmo tempo em que bem humorados, também sombrios, por conta do próprio passado da autora (ela foi alcoólatra e conseguiu superar o problema). Portanto, não, o livro não é apenas sobre mulheres decepcionadas. Vai bem mais além e, com isso, não estou diminuindo a dor de um coração partido.
Cheio de Charme mescla humor, romance, drama, suspense, política, e, acima de tudo, vida. Por mais que, em muitos momentos, a leitura tenha sido um pouco cansativa e que, em minha opinião, não seriam necessárias tantas páginas assim, quando cheguei ao final vi que valeu a pena e não me arrependi da leitura. Não se tornou um dos meus favoritos da autora, mas creio que foi o mais denso dela que li e, nesse momento, não me refiro à quantidade de páginas. A história foi bem amarrada, bem desenvolvida e explorou magnificamente bem o psicológico dessas mulheres, expondo-os e me fazendo pensar o quanto é fácil julgar sem se estar na pele do outro, e o quanto algumas situações nos tornam impotentes e fragilizados, o quanto essas situações podem ser destrutivas.
Marian me enganou, e da mesma maneira que eu poderia julgar alguém em situação semelhante às descritas, julguei seu livro pela capa e por suas 100 primeiras páginas.
No resumo, posso dizer que Cheio de Charme é excelente para descrever as obras da autora: uma capa fofa e uma narrativa leve e cômica que enganam sobre a profundidade de seu conteúdo. Esse não é um chick-lit apenas para se relaxar e passar o tempo, é um para também refletir e para conhecer um lado mais sombrio da vida. Não faça como eu: não julgue o livro por seu início. Se resolver lê-lo, respire e encare todas as páginas até o fim. Pode não se tornar seu livro favorito, mas acredito que valerá a pena.
É o único que falta pra eu completar as obras delas publicadas (e eu não li).
Achei sinceramente que não teria resenha depois de passar tanto tempo desde que vi ele nas fotos do desafio.
Fiquei surpresa, de verdade, com essa questão de ter te surpreendido com uma profundidade ainda maior do que a esperada.
E afinal, a Lola te desencantou até o final ou ela conseguiu melhorar nos seus critérios?
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